domingo, 6 de novembro de 2011

MAS, NINGUÉM OUVIU?

"Niguém ouviu
Um soluçar de dor
No canto do Brasil.

Um lamento triste
Sepre ecoou
Desde que o índio guerreiro
Foi pro cativeiro
E de lá cantou."

As duas estrofes acima são excertos da letra da música: O canto das Tês Raças de Paulo César Pinheiro e   Mauro Duarte,   interpretada pela sambista Clara Nunes,  na   década de 70 (1976),  do século passado. Mas será que no Brasil Colonial (1530 - 1808) ninguém ouvira o lamento triste do índio guerreiro?

Ouviram, brigaram, aproveitaram-se dos "negros da terra" e por eles legislaram. No início da colonização era marcante a presença de indígenas e escravos negros africanos trabalhando nas lavouras de açúcar introduzidas no Brasil, quando da Expedição Colonizadora de Martim  Afonso de Souza (1532). A partir desta data, inúmeros outros engenhos foram prosperando na colônia, desenvolvidos a partir do esquema de agroindústria, e enchendo os cofres reais e de seus colonos, que burlavam o abstrato Exclusivo Colonial, de dinheiro. No entanto, mais de 70% da mão-de-obra dos engenhos de açúcar no Rio de Janeiro, por exemplo, segundo os padres da Ordem de São Bento,  em fins do século XVI e início do século XVII, eram compostos por mão-de-obra indígena. Com o passar dos anos, em virtude das colônias portuguesas africanas enviarem escravos para o Brasil com maior frequência e com as queixas jesuíticas, parecia ter a situação da escravidão nativa se invertido.

As tensões entre as casas dinásticas européias: Portugal, Espanha e Holanda tenderam a se acentuar com a morte do rei D. Sebastião e, por conseguinte, da incorporação por Castela, de  Portugal ao domínio espanhol: nascia a União Ibérica (1580-1640), uma vez que  os Países Baixos (Holanda),antes província comercial espanhola, alcançaram a independência política em 1581. Em contra partida a coroa espanhola cria o Embargo Espanhol no Brasil e adjacências coloniais,     tencionando impedir todo e qualquer relacionamento holandês com os colonos brasileiros. Antes eram os holandeses os responsáveis por financiarem   e  distribuirem para a Europa grande parte do açúcar produzido no Brasil Colônia. Em virtude do embargo, supracitado, várias regiões coloniais, agora, administradas pelos Filipes, seriam invadidas pela Companhia das Índias Ocidentais. E os mercados negros africanos, durante a União ibérica, foram alvo fácil para a  beligerante perfídia holandesa.

Com a tomada das regiões escravagistas africanas pelos holandeses, o preço dos negros no mercado internacional tendia a subir e como alternativa, os colonos brasileiros escravizavam os "negros da terra". Em defesa do braço nativo estavam os jesuítas, que até podiam usar do braço destes em suas missões e aldeamentos, mas não permitiam que os colonos os escravizassem, salvo quando de guerra-justa contra o indígena ameaçador da ordem colonial.  Algo, de pronto, corroborado pela legislação espanhola, acerca da escravidão indígena. Neste período que se circunscreve entre os anos de 1580 a 1640,  há uma constante presença de saltos nas missões e aldeamentos indígenas jesuíticos, por parte dos colonos e do movimento bandeirante, este responsável não só pelo apresamento dos nativos e depois da venda destes, para os engenhos de açúcar, como também pelo crescimento oriental do Brasil Colônia.

Desta feita, houve um debate na colônia, e fora dela, sobre o lamento triste do nativo, ora escravizado por colonos, ora servindo como mão-de-obra para as missões e aldeamentos católicos. Houve uma legislação que os defendia, jesuítas que alegavam serem os nativos bons selvagens, sem desprezarem, é claro, os seus braços, e colonos mais bandeirantes desejosos desta abundante mão-de-obra, em face do escasseamento do braço cativo africano.


Mãos a obra: atividades


1-  Associe a União Ibérica (1580-1640) com o aumento da escravidão indígena no Brasil Colonial.
2-  Retire do texto excerto (trecho) que afirma haver na colônia contrabando.
3-  Os bandeirantes ao longo do século XVI e XVII, em suas expedições, contribuíram para o aumento territorial do Brasil Colônia. Justifique.
4- Defina guerra-justa no que concerne ao período da história brasileira acima referendada.
5- Que são Missões Jesuíticas e qual a função delas no Brasil Colonial?
6- Caracterize o modo de vida dos "negros da terra" levando em consideração a tribo dos TUPINAMBÁS.
7- Pesquise  sobre a legislação indigenista para o Brasil Colonial e sua aplicação durante a União Ibérica (1580-1640).
8- Como ocorriam os saltos dos bandeirantes nas missões jesuíticas e para que serviam?
9- Cite o nome de um jesuíta, do período estudado, que tenha sido defensor do braço nativo.
10- Explique, de acordo com o texto acima, por quais motivos o trecho da música - O Canto das Três Raças - apresenta incongruência histórica.